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   Falando com o corpo  

 

Fazer das ruas um palco, mostrar que as mulheres também têm capacidade de dançar tão bem quanto os homens, usar essa força para se fortalecer e mostrar que nenhum ambiente deve ser apenas destinado à supremacia masculina é o que a porcentagem feminina evolvida com movimentos de dança toma como seu principal objetivo. É mostrar que todas são capazes, servir de exemplo e inspiração para que outras meninas possam aderir ao movimento, trazendo assim uma equidade ao ambiente.

 

O que muitas pessoas não entendem é como a dança de rua pode ser considerada uma ferramenta de empoderamento feminino. Para entendermos isso é necessário voltarmos anos atrás, para o surgimento do break. O Breakdance foi uma dança inventada pelos porto-riquenhos, onde eles expressavam suas insatisfações com a política e a guerra do Vietnã. Eles tinham como inspiração movimentos de artes marciais. Já nos Estados Unidos a dança de rua surgiu com os negros nas metrópoles e se espalhou com as gangues de Nova Iorque. O break era uma resposta à opressão social com violência, onde era comum que houvesse confronto armado. Por ter uma origem violenta, conter movimentos brutos e de força essa prática não abria espaço para mulheres.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                     

                                                               Laay, Bellator e Anne Roots do Poder Feminino Crew  (Foto: Ingrid Abage)

 

 

A formação de grupos ou crews (como são conhecidos), a imposição da mulher em um ambiente tomado por homens, a promoção de uma igualdade de gênero utilizando a dança como uma atividade social de conscientização é uma das diversas formas de promover empoderamento feminino. Entretanto, mesmo depois da dança de rua ter se tornado um fenômeno mundial, são poucos os grupos de mulheres evolvidos com essa prática. Em Pernambuco, um dos grupos que vêm ascendendo no quesito cultura hip-hop é o Poder Feminino Crew, que encoraja as mulheres a mergulharem nos movimentos de resistência. O coletivo é formado apenas por mulheres e reúne dança, grafite, rap e também poemas. Ele surgiu a partir da frustração das meninas em ver que elas não tinham o espaço que mereciam dentro do movimento. A estudante Elaine Silva, popularmente conhecida como Laay e fundadora do PFC, fala sobre o limitado espaço que era, (e ainda é), cedido as mulheres, “se tinha crew de homens só tinha uma ou duas bgirls, mas eles nunca deixavam elas batalharem porque achavam que elas iam perder (...) E eu via que o pouco espaço que a gente tinha era mendigado, era como se fosse uma cota”

 

Para a estudante Regiane Freire, mais conhecida como Anne Roots, o encantamento pela dança surgiu desde quando era criança, mas por falta de condições e tempo nunca pode se dedicar inteiramente a essa atividade. Esse interesse pela dança de rua foi se desenvolvendo quando ela passou a frequentar ensaios que meninos de uma comunidade vizinha a dela realizavam. Mas ela lembra que o número de meninas presente era muito baixo, “realmente tinha pouquíssimas meninas, só tinham três meninas e só uma que treinava valendo com os caras” 

 

Nutridas pela indignação, elas tomaram a decisão de se impor perante ao preconceito que vinham sofrendo e assumir o papel de protagonista no movimento. Para Laay, é de vital importância o fortalecimento das mulheres nesse meio e a persistência sempre, “o break é uma dança que requer força, requer resistência, então para mulher pode parecer mais difícil por ter menos força (física), mas mesmo assim a gente mostra que pode, que a gente consegue”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Além do break as meninas também dançam o ragga, dança de rua jamaicana que apresenta movimentos chamativos e sensuais, mas ao contrário do que muitos pensam, os movimentos realizados durante as apresentações não são um convite ou provocação aos homens, e sim uma forma de mostrar que elas são donas do próprio corpo e que podem fazer com ele o que quiserem.  Anne Roots afirma que a mulher pode ser sensual sem ser vulgar “tem muita gente que acha que se a mulher tiver dançando é vulgaridade e não é. Mulher tem direito e a dança é uma arte”.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com letras fortes em forma de protesto e insatifação com o cenário atual,  as meninas mostram que o Poder Feminino Crew não é só entretenimento,  “tem muita ideologia, muita luta, muito sentimento envolvido no que a gente faz” afirma Laay. É através da coragem de se erguer e lutar contra a lógica machista que nascem novas faces na dança de rua.

 

 

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