ANIMAÇÃO
{em foco}

Discussão de gênero nos filmes da Disney
Desde que o cinema de animação da Walt Disney Pictures nasceu (Antigamente conhecida como Walt Disney Feature Animation, Walt Disney Productions e Disney Brothers Cartoon Studio), a mulher sempre foi retratada de uma forma machista, regada de clichês e estereótipos. As mulheres nos filmes eram apenas princesas, lindas, delicadas, prendadas e só. Isso se dá pelo fato de vivermos numa sociedade regada de valores machistas que colocam a mulher como ser inferior.
Mas por que a mulher sempre tem o papel de moça indefesa, à procura de um homem, sempre escrava da beleza, sempre a pobre coitada que só terá o seu “feliz para sempre” se conhecer um príncipe, o amor da sua vida, um homem, Homem, HOMEM! Por que tudo deve girar em torno de um homem?
Desde os primórdios da evolução da raça humana sempre foi designado para as mulheres papeis como, cuidar do lar e dos filhos, já os homens eram responsáveis pela caça e pela segurança. Com o passar das décadas pouquíssima coisa mudou, o homem continuou sendo aquele que tem o poder de fazer o que quer, já a mulher sempre foi afastada do meio social e reclusa ao lar. As crianças eram (e são até hoje) ensinadas a seguir um modelo de "educação" onde o homem ensina ao ser filho a ser forte e a mãe ensina a filha a ser delicada e a servir.
Trazendo essa questão para o campo da animação, basta fazermos uma breve retrospectiva para ver, ou melhor dizer, para não ver, quantas mulheres são fortes, guerreiras, trabalham (Sem mencionar a cinderela, pois ser explorada não conta como trabalho aqui) ou se quer têm colegas, amigas, melhores amigas.
Não ensinam mulheres a serem irmãs, companheiras, confidentes, a ter aquela coisa maravilhosa chamada sororidade, apenas ensinam mulheres a se odiarem, a alimentar uma rivalidade estúpida quem nem devia existir, tudo isso para ter a atenção do homem, como esse fosse o ponto alto na vida de uma mulher.
Desde “A Banca de neve e os sete anões”, (o primeiro longa-metragem produzido pelos estúdios Disney), a mulher duplamente estereotipada, pois uma, a Branca de Neve, é colocada com uma sonhadora, meiga, delicada, já a outra mulher, a Rainha Má, faz o papel da invejosa, competitiva, que faz de tudo para destruir outra mulher por pura vaidade. Já o homem é colocado como o salvador, pois a ele e só a ele, cabe a missão salvar a pobre branca de neve do sono profundo.
Treze anos se passam e a Disney lança “Cinderela” a personagem pode até ser diferente mas a base da história não, mulher bonita que desperta a inveja nas outras, e ainda tem o bônus de ser escravizada pelas próprias irmãs e madrasta, mas é salva por um príncipe encantado, até porque é esse o papel do homem nos filmes de princesa, salvar a mulher da vida infeliz que ela levava. Anos depois a Disney segue com outros clichês como a "Bela Adormecida", com a mesma base das histórias anteriores. Nenhuma novidade até quem em 1995 a Disney lança Pocahontas, uma princesa índia, isso mesmo, quebrou com a sequência de princesas brancas, mas não é só na cor que "Pocahontas" é diferente, ela é uma mulher guerreira, apaixonada pela sua cultura e seu povo e que não tem um sonho de se casar com o primeiro homem que aparecer na sua vida. E 1998 a Disney lança mais uma personagem forte, "Mulan", uma chinesa, uma mulher que para defender sua família vai à guerra, mostra que é tão capaz de lutar quanto os homens, defende seu povo e seu país.
Onze anos depois a Disney lança sua primeira princesa negra em “A princesa e o sapo” onde Tiana, personagem principal, é uma mulher trabalhadora que sonha em montar seu restaurante, Tiana não tem muito tempo para sair pois está sempre preocupada em juntar dinheiro, ao contrário se sua amiga, que é filha de um homem rico e está desesperada para chamar a atenção de um príncipe recém chegado na cidade. Apesar de mostrar amizade entre duas mulheres de classes totalmente diferentes o filme ainda carregar alguns estereótipos já é mais um passo na desconstrução da imagem errônea que se tem da mulher.
O cinema de animação ,que é voltado para crianças, deveria transmitir valores como o companheirismo, amizade e respeito, independente do sexo ou cor, porém isso não é muito visto nos clássicos da Disney. Só agora, a Disney, que é uma das maiores produtoras de animação, "aceitou" que está mais do que na hora quebrar seus próprios paradigmas por completo. Os filmes “Brave” que no Brasil foi titulado de “Valente”, onde Merida uma jovem aventureira se recusa a seguir a tradição de se casar. E “Frozen” no Brasil “Frozen, uma aventura congelante”. Onde as personagens Elza e Anna descobrem que o amor que uma em pela outra é forte o suficiente para destruir qualquer feitiço, são exemplos recentes que mostram uma mudança nos modelos de filme da Disney.
É importante que cada vez mais o cinema mostre que as meninas são muito mais do que a beleza, é preciso mostrar que elas são fortes, são inteligentes, que as outras mulheres são sim amigas, que competir para saber qual é a mais bela não é uma coisa legal a ser fazer, pois todas têm suas peculiaridades, todas são lindas da forma que cada uma é, e que o amor de suas vidas não são apenas os “príncipes encantados”, mas sim, a sua irmã, sua família, sua amiga. É preciso que as crianças se reconheçam nos filmes e não se iludam com uma história que foge completamente da realidade de todas, é preciso que elas se sintam inspiradas pelos filmes e não desiludidas querendo se transformar em algo/alguém que não é.
Mas por que estudar gênero?
Primeiramente para que a gente possa discutir sobre gênero, devemos saber a diferença entre dois termos que são constantemente confundidos, o gênero e o sexo. Devemos entender que sexo é uma categoria que demarca os campos do que é ser fêmea e do que é ser macho, já o gênero é um conceito mais relacionado ao que é feminino, masculino ou uma mistura dos dois.
Desde muito cedo é imposto na nossa sociedade uma educação que é diferenciada de acordo com o nosso sexo, ou seja, ensinam aos meninos a seres fortes, brutos, aventureiros e controlam suas emoções com aquele terrível clichê de que "os homens não choram", já as meninas são ensinadas a serem delicadas, predadas, a cuidar da aparência, da casa e de todos ao seu redor, devem sempre sorrir e ser simpática, e quanto as suas emoções às define como muito sensível e instável.
A educação de gênero se faz necessária para que mais nenhuma criança seja submetida a esses clichês que só prejudica ambos os lados, uma educação de gênero é uma educação igualitária, onde os mesmo valores e condutas são transmitidos para ambos os sexos de diferentes gêneros.
Entendo que os homens e as mulheres têm sim diferenças, diferenças essas fisiológicas e biológicas, mas o meu ponto é que nada impede que essas diferenças os segregue e delimite o que podemos ou não fazer, como devemos ou não nos comportar.
por Ingrid Abage











