top of page

Um vôo pelo fantástico mundo de Miyazaki

Hayao Miyazaki. Esse nome surgiu na minha vida (se não me falha a memória) no fim da minha adolescência e a primeira experiência que tive com a obra desse diretor Japonês foi com a animação “Meu vizinho totoró”. E até hoje eu me pergunto como não amar esse filme?! Totoró é de uma sensibilidade e beleza que tinha visto em poucas animações até aquele momento. Ali percebi que estava diante de uma obra realmente diferente, que se utilizava do fantástico, para falar de assuntos profundos, e dolorosos. Não lembrava de ter assistido naquela época uma animação que tratasse de temas tão densos, e para nós ocidentais tão adultos, como naquele filme. E tudo de uma maneira sútil, metafórica e poética. Ali percebi que Miyasaki não subestimava sua plateia, nem tão pouco reduzia seus personagens ao duo herói/vilão. Pois ele tinha a noção do quanto a vida e as pessoas eram mais complexas do que isso. Naquele momento não apenas me diverti, mas senti e pude usufruir das reflexões propostas pelo filme, sendo provocada a pensar, em temas que muitas vezes negamos, ou temos medo de encarar.

Depois do impacto causado por “Meu vizinho totoró”, fui aos poucos me aventurando por outras animações de Miyasaki. “Ponyo”, “Castelo Animado”, “A viagem de chihiro”, “Vidas ao vento”, “Nausicaa, e o vale dos ventos”, “Castelo no céu”, “Princesa Mononoke”.... E falo sem dúvidas, Miyasaki soube através das suas animações mostrar “os poros no rosto da vida” de maneira muito particular, e todos os seus filmes de alguma forma me atravessaram, e deixaram alguma inquietação. Claro, que tiveram algumas animações que me encantaram menos que outras, mas nunca nenhuma me deixou indiferente ou apática. Por isso se você ainda não conhece esse universo, ou já conhece, e quer compartilhar um pouco mais dessa experiência, eu te convido a se jogar nesse voo intenso, através desse mundo de possibilidades e encantos que é a obra de Miyasaki. 

Meu Vizinho Totoro (1988)

Os primeiros passos do mestre

Com 74 anos de idade, Hayao Miyazaki, tem um currículo cheio de experiências cinematográficas marcantes, e que sem dúvida alguma fazem dele um dos mais importantes criadores de animação da história. Tudo começou em 5 de Janeiro de 1941, em Tokyo, no Japão, quando Miyazaki veio ao mundo. Nascido durante a Segunda Guerra Mundial, Miyazaki apesar de ter vivenciado muito pouco da guerra, foi fortemente atravessado por esse assunto, pois sua família estava ligada a fábrica que produzia componentes para o Zero, famoso avião japonês utilizado na guerra. A relação com os aviões também remontam outro aspecto bem comum em seus filmes, à sua paixão pelo voo.

Durante um bom período da sua vida, Miyazaki teve que lidar com as idas constantes da mãe ao hospital em virtude do desenvolvimento da tuberculose. “Apesar do período longe de casa e da longa doença, ela foi responsável por grande parte da forma como o filho vê o mundo”, e certamente, suas personagens femininas foram inspiradas na figura materna.

Quando adolescente mesmo encantado pela indústria do entretenimento, decide cursar Ciências Sociais e Economia na prestigiada Universidade Gakushin. Com termino do curso, se entregar ao antigo sonho, e ingressa na Toei Animation em 1963. É nesse período que podemos dizer que Miyazaki começa profissionalmente a trabalhar com animação.

Após a Toei Animations, o cineasta passou por outros estúdios, e ao decorrer desse tempo desempenhou várias funções no processo de criação de várias animação, até o dia em que criou seu primeiro longa, “O Castelo de Cagliostro”.

Mas foi “Nausicaa do vale do vento” (baseado no mangá hômonimo escrito pelo próprio Miyazaki) o seu primeiro grande sucesso. Considerada uma das animações mais populares da história do Japão, o desempenho de Nausicaa possibilita a criação do seu próprio estúdio, o Estúdio Ghibli, em 1985.

É desse estúdio que vão sair seus sonhos em forma de animação que tanto encantaram 

A Fábrica de sonhos: O Estúdio Ghibli

De onde saíram às animações que estremeceram o mundo da animação, e geraram tanto fascinação? A casa das animações de Miyazaki há 30 anos é o estúdio Ghibli. Surgido em 1985, após o sucesso comercial gerado pela animação “Nausicaa e vale do vento”, o estúdio Ghibli, nasce da parceria entre Isao Takahara, animador que Miyazaki conhecera enquanto trabalhava na Toei Animation, e do suporte financeiro da Tokuma Shoten.

O projeto do estúdio era ousado, e extremamente autoral. A ideia era produzir animações de alta qualidade, com uma marca própria, e que suas histórias não estivessem ligadas aos animes ou mangás, tendo assim, narrativas originais.

Com esse conceito, em 1986, o estúdio estreia sua primeira animação “Laputa: O Castelo no Céu” de Hayo Miyazaki. Laputa alcança grande sucesso, trazendo o retorno esperada, e consequentemente a possibilidade de produzir novas animações. É assim, que de forma ousada o estúdio dois anos depois surpreende lançando dois filmes ao mesmo tempo, “Meu vizinho totoro” de Miyazaki , e “Túmulo dos vaga-lumes” de Isao Takahara. Mais uma vez o estúdio acerta, e emplaca dois grandes sucessos, que hoje são considerados um dos melhores filmes da companhia.    

Inicialmente por causa dos riscos que a nova empreitada significava, o estúdio contratava funcionários temporariamente, ou seja, partir de cada produção que estava sendo feita. Mas através do retorno que as animações produzidas estavam trazendo, os funcionários passaram a trabalhar em período integral e a ter salário fixo. Logo depois, o estúdio também ganha novo espaço, e se desloca para um lugar mais amplo. Sendo o projeto arquitetônico todo idealizado por Miyasaki.

Apesar de voltado para o cinema o estúdio em 1993 passou a produzir obras para a TV. E é nesse mesmo ano que testam o uso da computação gráfica em suas obras, mas sem deixar de lado o 2D, que é a marca das suas animações.

Em 1997, Miyazaki lança "A princesa Mononoke", e tanto o diretor como os estúdios alcançam reconhecimento internacional. Mas é em 2001 que o estúdio consegue consolidar seu nome no ocidente, através de “A viagem de chihiro” que chegou a ganhar o oscar de Melhor Animação. Apesar disso, o estúdio há muito tempo já tinha se firmado no Japão. “Se a Walt Disney Company talvez seja a produtora de filmes de animação mais conhecida mundialmente, mas, no Japão, é Hayo Miazaki que reina supremo. Os longas metragens pelo maior animador do Japão rotineiramente ultrapassa filmes da Disney, como Alandi e o Rei Leão nas bilheterias daqui.” O Estúdio Ghibli, como o próprio nome indica foi um vento forte vindo do deserto do Sahara, principalmente através dos filmes de Miyazaki, que chegou para transformar a realidade das animações no Japão e no mundo. 

Túmulo dos Vaga-Lumes (1988)

Laputa: O Castelo no Céu (1986)

A Viagem de Chihiro (2001)

por Vanessa Cavalcanti

bottom of page