ANIMAÇÃO
{em foco}

ESPECIAL: Tim Burton e seu estilo único
Timothy Walter Burton nasceu dia 25 de agosto de 1958, em Burbank, Califórnia. Ele foi o primeiro dos dois filhos do casal Bill Burton e Jean Erickson. Criado no subúrbio de Hollywood, o pequeno Tim era um garoto peculiar que resolveu trocar amigos por monstros e cachorros, suas duas grandes paixões.
Com uma imaginação hiperativa, ele criava na própria cabeça um mundo de sonhos sombrios e pesadelos coloridos. O amor pelo grotesco e as coisas não-convencionais o tornava um garoto estranho, porém com uma criatividade incomparável. Sua visão criativa o tornaria um dos maiores cineastas do nosso tempo.
Enquanto seus pais ficavam confusos em como criar um garoto tão introvertido, a mente do jovem Burton não parava. Ele acabou se apaixonando por desenhos animados e histórias de terror, dois gêneros que mais tarde viria a ser sua marca registrada. Para o professor de animação, Diego Carreiro, a infância é um momento decisivo na expressão visual que o artistas irá ter futuro. “Vemos que Tim Burton carrega um ar infantil até hoje nos seus desenhos e traços, é compreensível que esse estilo tenha sido determinado ainda quando ele era criança.”
Aos 13 anos, Tim já fazia pequenos curtas-metragens com uma máquina Super 8 do pai. As primeiras tentativas foram baseadas em histórias clássicas de horror, como O Lobisomem.
Em 1979, ao frequentar o Instituto de Artes da Califórnia ele produziu sua primeira animação, que chamou a atenção da Disney Corporation.
A primeira vista os filmes de Tim Burton podem ser sombrios e com temáticas pesadas para animações, porém Diego destaca que há um elemento bem característico nas obras de Tim Burton que muita vezes deixamos passar. "Eu apontaria o humor como uma das maiores contribuições de Burton para as animações. Claro, o humor impregnado daquela tristeza característica do verdadeiro e legítimo humor, que também não deixa escapar o paradoxal que lhe é peculiar", declara.
Os principais componentes visuais que encontramos na obra do cineasta é derivado de uma escola de arte que brinca com luz e sombra. Ao ser perguntado quais seriam as semelhanças entre os filmes dirigidos por Burton, Diego Carreiro responde: "Há certa atmosfera sombria, o humor negro, enfim, muita coisa extraída do expressionismo alemão. Há algo de muito perturbador na obra de Burton, a despeito de sua inegável ludicidade. Mas seu pudesse responder a essa pergunta com uma só palavra, eu responderia: o estranho. Na minha ótica, o estranho é o principal elemento visual da sua obra".
Diego explica que não é só nas animações que estilo próprio de Burton foi aplicado. Podemos vê-lo em todos os seus longas metragens. “Vemos objetos pontiagudos, estranhos e obscuros em todo os filmes do diretor. É a marca dele. Não importar o enredo. Sempre vai ter uma coisa lá que vai te fazer lembrar ‘ah esse filme é do Tim Burton’”.
Seus personagens também são únicos. Podem ser estranhos a primeira olhadela, mas com uma observação mais profunda veremos que eles carregam o que todo seres humanos carregam por dentro: uma incontrolável sensação de isolação e solidão, como é o caso de Vincent (1982).
O Estranho Mundo de Jack (1992)
Para a estudante de medicina, Natasha Porto, Jack Skellington, seria o mais perfeito exemplo do que é a essência dos filmes do diretor. "Jack não é apenas um esqueleto, um monstro. É uma criatura mal interpretada por aqueles que o rodeiam. Burton tinha muito disso onde cresceu e levou para seus filmes. "
O Estranho Mundo de Jack (1992) é a mais célebre obra do diretor, porém resta aqui uma peculiaridade que a maioria desconhece: Burton não dirigiu filme. Ele criou os personagens, a história, os rascunhos, porém a direção ficou por conta de outro prodígio de Tio Walt, Henry Selick. Esse viria a ser o primeiro longa em stop-motion da Disney.
O trabalho era bem burtonescos, ou seja, fora da caixa. Uma das primeiras regras da animação é dar um olhar expressivo aos personagens, porém o personagem principal, Jack Skellington é um esqueleto sem globos oculares e um dos personagens secundários é um garoto cadáver com pequenos olhos costurados. O caso se repetiria em A Noiva Cadáver (2005), com o personagem caolho Bonejangles.
Bonejangles (A Noiva Cadáver - 2005)
Bonejangles toca blues em seu bar super animado no submundo. Inclusive esse é o grande diferencial em A Noiva Cadáver. "Ele até se parece com Sammy Davis Jr. Só que em forma de esqueleto" observa Natasha. O vai e volta da história percorre em dois lugares: A terra dos vivos, estérea e em preto e branco. E a vívida, colorida e divertida terra dos mortos.
Peço para o artista gráfico Renan Maurílio desenhar um personagem ou uma paisagem bem ao estilo de Burton durante nossa entrevista, ele retruca dizendo que será um grande desafio. "Parecem simples, mas é tudo ilusão. Os troncos distorcidos, os morros em forma de espiral, os personagens, tudo cria uma atmosfera que é muito difícil de copiar."
Para Renan, o filme do cineasta que mais lhe chamou a atenção foi Frankenweenie (2012), "É pela diversidade dos personagens. Na escola do Victor Frankenstein vemos criaturas bizarras, como a Elsa van Helsing. São todos únicos e estranhos ao seu jeito, porém você consegue se conectar com qualquer um facilmente", afirma.
Desde Vincent até Big Eyes (último filme lançado pelo cineasta em 2014), o ar sombrio e macabro está presente em todas as produções e pode ser reconhecida entre os entusiastas cinematográficos. Hoje mundialmente reconhecido por seu estilo próprio, Tim Burton é aquele que torna pesadelos e fantasias em realidades para a cinema.
"Burton é o tipo de artista raro, que cria um universo inteiramente seu, no qual consegue exprimir com maestria a sua visão de mundo. Quantos artistas conseguiram este feito no mundo contemporâneo? Quatro? Cinco? Daí você apreende a importância e a grandeza dele no mundo da arte", finaliza Diego Carreiro.
O Estranho Mundo de Tim Burton para Visitação
Que o mundo bizarro de Tim Burton é conhecido mundialmente, clamado pela crítica e cultuado por fãs, todo mundo sabe. Mas agora não precisaremos ver seu universo apenas através da tela do cinema. Foi inaugurado em 2010, no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, uma exposição para celebrar as artes e peças de filmes do diretor. Mais de 800 mil pessoas já foram visitar a exposição.
É uma grande oportunidade para ver e vivenciar de perto os universos de A Noiva Cadáver, O Estranho Mundo de Jack,. Alice no País das Maravilhas entre outras produções marcantes do cineasta. São mais de 700 objetos de cenas de filmes, pinturas, bonecos, storyboards, que ajudam a contar toda a carreira de Tim Burton e expressa um pouco da sua arte, como desenhos da coleção pessoal.
A megaexpoxiçao não estar tão longe da realidade dos brasileiros. O Museu da Imagem e Som de São Paulo (MIS) irá receber esse universo fantástico entre janeiro e abril de 2016. O próprio diretor está super entusiasmado com a oportunidade e já confirmou presença na abertura (ainda sem data).
O MIS já recebeu aclamadas exposições como a de Kubrick e Bowie, e mais recentemente da do Castelo Rá-Tim-Bum. O museu confirma que Tim Burton: A Exposição terá uma adaptação exclusiva para o público nacional, contando com o Edward, Mãos de Tesoura em tamanho real.
Confira abaixo como é a exposição do MoMA só para sentir o gostinho de como será a daqui do Brasil:
Galeria de Fotos "Renan Maurílio":
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Fotos: Google/Getty Images Emanuella Casado
Fotos Galeria "Renan Maurílio": Animação em Foco Contato: withoutwonderland@gmail.com












